Há situações na vida que acontecem simplesmente porque têm de acontecer. Aliás cada um tem o seu caminho a fazer, e muito embora esse caminho não seja linear, sempre a ver o horizonte, muito menos o destino final , por vezes trás muito boas surpresas, outras desafios e suscita dúvidas. Pensando bem, o que seria a vida sem todos esses constante cruzamentos que nos obrigam a refletir.
A Rita, a outra Rita que me acompanhou em permanência durante dois anos, foi uma dessas surpresas.

No meu projeto de vida, como já sabem os que me acompanham, sou determinada e procuro em tudo um foco, sempre desejei e ambicionei uma vida o mais independente possível, nem que para isso tivesse de ter uma pessoa a apoiar-me para ser o prolongamento do meu corpo.
Durante dois anos, tive esse apoio da Rita. Muitas aventuras de estrada, muitas peripécias da vida universitária e cumplicidade, uma ajuda essencial que não posso esquecer.
Ainda me lembro do dia em que comuniquei à faculdade que a partir daquele momento iria levar comigo para as aulas, alguém sempre ao meu lado em permanência. Alguém cúmplice não só para me colorir os cadernos e escrever em tempo recorde a matéria dada, mas também para rir comigo, comentar esta ou aquela situação. Lembro-me também de os professores dizerem em tom de brincadeira, que a Rita estava mais do que apta a tirar o curso.
Para muitos é mesmo muito estranho o facto de termos uma sombra, 8 horas por dia. Para mim, a partir do momento que tive assistente pessoal, passou a ser um modo de vida, saber que tenho alguém que me acompanha para além da família, fazendo essa tarefa com entusiasmo e partilha.
Inevitavelmente a relação laboral e profissional passa a ser uma relação pessoal, quase familiar. Isto porque, a Rita passou 8 horas comigo em casa na faculdade e até no meu contexto familiar.

Obviamente este é um trabalho como outro qualquer, mas a cumplicidade entre um assistente e um beneficiário acaba por ir muito para além de um contrato de trabalho, com oito horas certas a cumprir.
A verdade é que a vida é repleta de ciclos e novos começos, a minha “darling” (como nos tratamos, em tom de brincadeira) entretanto deu novo passo na vida, a Rita casou, eu também decidi ir para uma universidade mais longe, por isso optei por deixa-la voar e procurar novas oportunidades de emprego e vida enquanto eu, também encontrarei novas oportunidades e novos começos.

Foi uma jornada muito bonita e transformadora para mim e penso que para a Rita também, como acredito que nada é por acaso, espero continuar a ter a oportunidade de celebrar esta relação que era profissional e que se tornou uma amizade que acredito ser para a vida.
Decidi deixar aqui esta minha celebração de uma amizade que fica porque irá agora dois anos que comecei a trabalhar com a Rita, entrando agora numa nova fase com nova assistente, a Daniela, já minha cúmplice também, estamos prontas para arrancar muito brevemente a nova fase de mestrado na faculdade.
Para quem tem algum tipo de dificuldade de locomoção, não imaginam vocês o valor que tem, sabermos que há alguém com vontade de nos ajudar, não como um trabalho, mas pela dedicação que se transforma em amizade, em cumplicidade, em vontade de ajudar, muito para além da remuneração que auferem pelo que fazem. Estou a grata a Rita pela dedicação demonstrada. Acho que não dissemos nunca uma à outra o que representou de valores humanos a nossa experiência. Não lhe disse, nem preciso, ela é psicóloga de formação.
Com a Daniela, estamos já em velocidade de cruzeiro e como se diz : – “com vontade e dedicação, o mestrado vai ser canja”.