O poder do agora

Sem que nos possamos aperceber, a nossa vida gira em torno de bens materiais. Paralelamente a isso temos a tendência para pensar que a nossa vida e a nossa dor é a mais insuportável de todas. As espectativas são cada vez mais altas e o nosso umbigo passa a ser o centro daquilo que achamos ser o mundo. 

Assim vai o mundo e o ser humano. Cada vez mais individualista, sem escrúpulos sem tempo nem capacidade de ver o mudo na perspetiva dos seus pares. 

Só quando a vida nos dá um abanão dos grandes é que percebemos que todas as certezas que tínhamos antes já não temos e aquilo que tínhamos como o certo passou a ser o incerto e a nossa vida passou a ser posta em causa.

Nos meus 23 anos de vida já passei por muitas provações e por umas lutas mais complicadas por outras, porém só agora consigo perceber o quanto me fizeram crescer, ser grata a vida sem ressentimentos nem tristezas.

A oportunidade que me foi dada de passar um mês no centro de reabilitação do Norte ensinou-me muito. Fui para lá aprender a lidar com uma nova condição (uma lesão medular) que vem juntar à minha paralisia cerebral e (re)aprender algumas competências que deixei de ter e que com muito trabalho voltei a adquirir. 

Ao início achei que o foco seria a minha lesão e a recuperação da mesma. Após uma semana de lá estar e depois de conhecer todos os cantos à casa percebi que tudo aquilo não era sobre mim, mas sobre os outros. Sobre empatia e uma palavra de animo que movem vontades e trazem tranquilidade para o novo trilho que todos passaremos a percorrer.

Este novo capítulo da minha jornada, despertou-me ainda mais para os outros e para tudo aquilo que rodeia, sem que a minha paz seja comprometida. 

Quando passamos a ter mais consciência da nossa jornada interior percebemos, que há uma sociedade e um mundo que embora tenha cada vez mais desafios que requerem uma consciência para além do palpável e do material, é o oposto disso. 

Ainda assim quando conhecemos o sofrimento numa escala inqualificável percebemos que nada, nem a ordem em que o mundo está estruturado faz sentido. E ai percebemos que a vontade em praticar o bem e a empatia que sentimos por tudo aquilo ao nosso redor, não depende de convenções nem protocolos sociais, mas sim da nossa perspetiva perante a vida e uma fé em algo maior que nos ensina e nos faz evoluir dia após dia.