Hoje é o Dia Mundial da Paralisia Cerebral
Escrevo não só para contar na primeira pessoa minha história de sucesso ( desculpem a imodéstia ), mas sobretudo para acalmar os corações inquietos de pais e famílias, que caíram de paraquedas neste mundo tão duro e por vezes sinuoso da Paralisia Cerebral.
Este caminho consegue ser solitário e em simultâneo muito luminoso.
Se ás vezes parece que estamos prestes a cair o abismo do desalento, outras vezes conseguimos enxergar pequenas coisas, que nos transcendem, têm significados que só os tocados por alguma diferença durante a vida, conseguem decifrar, ver com outros olhos.
Não me considero uma guerreira. Sou uma jovem de 20 anos, a quem o destino trocou as voltas (ou não…), com uma certa mestria.
O universo, ao contrário do que se possa pensar sabe o que faz. Confio nele…
Tenho plena consciência de que por muito que, ás vezes, me sinta vencida, nesta luta que é diária, não a trocava. Pode parecer chocante ao ponto de duvidarem destas minhas palavras, se nunca soube o que era correr, posso sempre correr no pensamento e imaginação…certo?
Além disso acho que os problemas e as diferenças só ditam o nosso destino se deixarmos. É difícil, mas não impossível desenhar a nossa própria história sem estamos eternamente agarrados aquilo que nos definiu à nascença como “incapazes” aos olhos de meio mundo.
Na verdade, eu tenho paralisia cerebral, porém ela não me define nem tão pouco limita a minha capacidade de viver uma vida normal.
O lado mais duro e desumano deste caminho, é a forma cruel como a sociedade olha para a Paralisia Cerebral. É um mundo de padrões e regras competitivas, quando na verdade não há duas pessoas iguais.
Enquanto a diferença não nos toca, não é nada connosco, não é?
Apesar de toda a dor física e psicológica pela qual já passei, ( e passo muitas vezes) não deixo de sorrir porque a vida é um equilíbrio e um misto de sentimentos não só o sofrimento.
Há dias em que o meu mundo desaba, e logo a seguir sem chance de recuo ele lá se reergue.
É uma vida em que o desafio é a premissa e a superação é uma constante. É uma incógnita para a maior parte dos ditos normais, como consigo ser feliz.
Então é assim, tal como vocês são felizes na vossa condição de meros chatos convencidos normais. Eu sou uma miúda bastante feliz resmungona e determinada que por acaso tem PC.
Ando há 20 anos a tentar compreender o mundo, mas nem por isso a sociedade tenta compreender o meu por um minuto que seja.
Mais do que uma efeméride de calendário este dia, deve ser para refletir e celebrar todas as conquistas, daqueles que são felizes mesmo em constante luta com a gravidade e com um corpo que mais parece ter vida própria.
Muito gosto de ti, Rita!
Sei só um bocadinho daquilo de que falas… A minha neta é autista.
Um grande abraço.
Continua feliz! 🤗😘❤️