Todos temos direito a dias de m***
Diz que não fica bem a uma menina mulher usar o calão, mas há dias de tudo. Provavelmente até me estou a expor demais e muitos vão dizer que esta não sou eu, mas na verdade os últimos dias têm sido de cansaço físico e psicológico extremo.
Na verdade, o balanço do semestre é bastante positivo. Tenho tirado boas notas e tenho conseguido cumprir ao ritmo dos meus colegas, os objetivos pretendidos a cada unidade curricular. Tenho um grupo de trabalho com espírito de camaradagem e amizade tão grande que só não voam comigo e com a cadeira juntos porque não podem.
O desafio é grande, tão grande que o medo de falhar é constante. A exigência que tenho comigo própria também é grande, embora não tenha quem quer que seja a pressionar-me, tenho de cumprir os objetivos do plano do mestrado e os meus próprios objetivos de ser cada vez mais e melhor, conquistando cada objetivo com perseverança resiliência e mérito. Não tenho pressão de ninguém a não ser a que imponho a mim própria, apesar disso me deixar de rastos algumas vezes.
Muitos vão dizer que este é o mundo competitivo que não dá tréguas a ninguém. Eu, digo-vos que é extremamente complexo ter um cérebro, uma maturidade e um sentido de clarividência perante a vida que chega com antecedência a todas as situações, muito antes de um corpo preguiçoso e com alguns “ferrinhos “que me amarram a coluna, e uma cadeira de rodas que tem as asas da minha imaginação.
Viver com dor crónica não é o fim do mundo, mas corta pensamentos rotinas e por vezes a dor física é tanta, que mal ou bem transcende o corpo, num ponto em que o cérebro por vezes desliga a ficha.
E agora perguntam vocês não há solução para isso? Há. medicação, e rotina de fisioterapia e exercício físico que não descorei e nenhum momento da vida, mas o dia só tem 24h horas.
A medicação que é muitas vezes a diferença entre levantar-me ou não me levantar da cama também é a mesma que me tira a energia, me deixa prostrada e nos últimos tempos quando tomo muitos dias seguidos, faz-me chorar e deixa-me verdadeiramente triste. Enfim…químicos, que ajudam, mas desequilibram a balança emocional. Mas nunca sou rapariga de desistir á primeira, confesso que me espanta muita gente que se queixa de tudo e por nada. Soubessem eles o que é dor física?!
Escrevo este desabafo, numa altura em que o pensamento e a alma já estão mais leves, com ajuda da minha psicóloga que me guia da melhor forma que sabe para o caminho da luz e dos bons pensamentos.
Agora é tempo de organizar ideias, pesar tudo na balança e recomeçar sempre da forma que sei…positiva.
Decidi partilhar isto, porque tenho noção que desse lado provavelmente à quem se envergonhe em pedir ajuda e sobretudo a seguir a sua felicidade e intuição que é o mais importante de tudo na vida.
Continuo os meus projetos, a minha vontade com a velha palavra mágica Determinação. Essa sim, mesmo com dor, é como um pendulo que marca o compasso e me ergue a cada desilusão ou dor mais aguda.
Sempre que fico mais triste pela dor física de alma que me atormenta, como a qualquer um de vós, mesmo sem ferros nem cadeira de rodas, tenho a sorte de ter quem tenho, bons treinadores no banco que percebem quando começo a ficar fora de jogo e lá estão eles a mandar bitaites e a dar-me a melhor estratégia e treino. A minha psicóloga, o meu PT, o meu fisioterapeuta.
Pensando bem, é assim desde pequenina, sempre a reerguer-me desde que me conheço.
Fico a pensar que há sempre alguém pior do que eu…queixo-me de quê?
Mas só cá para nós, entristece a queixa de quem não tem de que se queixar. O protesto de quem só tem privilégios, o egoísmo de quem já foi ajudado e se esqueceu, ou nem sequer sabe pronunciar solidariedade. Enfim…deixo isso para outra conversa, porque hoje só queria dizer isto e mais uma coisinha. Amanhã …toca a votar em consciência, só quem participa e exerce o direito, pode exigir.